quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O que é Mitologia?

A mitologia não é apenas um conjunto legal de histórias, mas a forma que uma cultura deu a pensamentos relevantes. São narrativas simbolizadas que buscam articular um sentido e duram de acordo com a universalidade do que representam. Dentro de cada mitologia existem diferentes mitos, estruturas recorrentes que elas têm em comum, como clichês. Os mitos de origem - como passamos a existir - têm formas recorrentes de explicação: um tempo zero e uma força criadora. A partir disso, o tempo 1, em que tudo passa a existir e o tempo passa a correr. Depois, é tudo decadência até o fim. Outro fato comum é a lembrança de tempos melhores que já passaram, aquilo de "antes tudo era melhor".

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ethos, Logos e Pathos: Os Estágios da Oratória Grega


Segundo Aristóteles, um orador tem à sua disposição três meios de persuasão: o seu próprio caráter (ethos), os argumentos (logos) com que defende a sua tese e o estado emocional (pathos) do auditório que pretende convencer.

Vejamos dois exemplos ilustrativos desses conceitos.

I) O Xavier quer persuadir alguns amigos e colegas da turma de que devem ler o romance A Vida de Pi, de Yann Martel (que fala de um rapaz que, após um naufrágio, se vê obrigado a partilhar um barco salva-vidas com um tigre e outros animais).
O Xavier começa por dizer que gostou muito do livro e que nunca o recomendaria se não o achasse realmente muito bom. Os colegas acreditam nele, pois acham-no uma pessoa sincera e confiam no seu carácter.
Depois, o Xavier argumentou que o livro está escrito de uma maneira bela e clara e que a história é divertida e interessante, pelo que prende o leitor da primeira à última página e o leva, até, a pensar em questões filosóficas importantes.
Os interlocutores de Xavier mostraram-se bastante interessados, mas este decidiu reforçar o seu esforço persuasivo com uma referência emocional: chamou a atenção para a relação, insólita mas especial e comovente, que o rapaz e o tigre estabeleceram e que, no fundo, não era muito diferente da relação que eles tinham com o Tareco Austero (o gato da escola que, para grande pena e tristeza de todos, tinha morrido havia pouco tempo).

II) Um político que na campanha eleitoral refere a sua experiência militar (quando é sabido que foi condecorado pela sua coragem em combate), tenta persuadir os eleitores baseando-se no seu próprio carácter.
Um político que na campanha eleitoral compara as suas propostas com as propostas dos adversários e tenta mostrar que as suas são melhores, tenta persuadir os eleitores baseando-se em argumentos.
Um político que na campanha eleitoral usa uma linguagem emotiva e privilegia temas que despertam emoções fortes em muitas pessoas (como por exemplo a criminalidade e a insegurança), tenta persuadir os eleitores baseando-se no estado emocional destes.
Pode ou não tratar-se do mesmo político, ou seja, esses meios de persuasão podem ser usados em conjunto ou separadamente. Presumivelmente, a eficácia será maior no primeiro caso.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Não tem atalho para o sucesso acadêmico


“Não tem atalho para o sucesso acadêmico”
POR PATRÍCIA GOMES

“Não tem atalho para o sucesso acadêmico”, repete diversas vezes Mike Feinberg, vestido impecavelmente, apesar do calor paulistano dos últimos meses, com sapato, calça e blusa sociais, cinto e gravata preta – salpicada com dezenas de smiles. Feinberg esteve no Brasil contando como foi que uma ideia, nascida em 1994 de dois egressos do programa americano de formação de professores, o Teach for America, se tornou uma iniciativa com 125 escolas espalhadas pelos EUA e mais de 40 mil alunos de baixa renda beneficiados. E a solução encontrada pelas escolas Kipp, Knowledge is Power Program, passa pelo aumento do tempo que as crianças passam estudando, na valorização da disciplina, na capacitação dos professores e, acima de tudo, na apresentação da universidade como um sonho possível.

Antes de a fórmula se mostrar bem-sucedida, porém, Feinberg e seu colega, Dave Levin, precisaram gastar sola de sapato. “No início, batíamos de porta em porta perguntando: nessa casa mora algum menino de 9 anos? Se sim, matricula essa criança na nossa escola!”, lembra o educador da caça aos alunos que teve de promover para preencher as vagas das duas primeiras Kipp, em Houston e em Nova York. Pouco depois, a realidade já era bem diferente. Em 1999, as duas unidades foram consideradas as melhores escolas de suas respectivas regiões e já não eram mais Feinberg e Dave que iam atrás dos alunos, mas o contrário. Hoje precisam sortear os alunos por não terem vagas para todos os interessados, começaram a receber pedidos das famílias e até do poder público para replicar a experiência e são a maior rede de charters – escolas públicas de administração privada – dos Estados Unidos.




Essa procura, acredita Feinberg, tem a ver com a mudança que o fato de estudar nas Kipp traz para a vida das pessoas. “O que fizemos foi elevar as nossas expectativas sobre eles”, diz o educador, que se orgulha da composição de sua rede e dos resultados que alcança. De acordo com o mais recente relatório anual de desempenho das escolas Kipp, 87% dos matriculados na rede são de famílias com baixíssimo poder aquisitivo. Por outro lado, 33% dos alunos que completaram os estudos ali se formaram em um curso universitário de quatro anos de duração, superior à média nacional, que hoje gira em torno de 30,6% para jovens de 25 a 29 anos, e muito maior que a taxa de 8,3% alcançada por alunos oriundos de comunidades de baixa renda.

“Queríamos aumentar o tempo que eles tinham para se dedicar ao conteúdo tradicional, sem sacrificar o espaço dos esportes e das artes”

Sem acreditar em receita milagrosa, Feinberg diz que o resultado é, basicamente, fruto de trabalho duro. Para começar, as escolas têm uma grade horária de período integral, das 7h30 às 17h, duas horas de trabalho de casa por dia, além de atividades aos sábados. “Queríamos aumentar o tempo que eles tinham para se dedicar ao conteúdo tradicional, sem sacrificar o espaço dos esportes e das artes”, diz o professor. Estando mais tempo na escola e menos tempo na rua, a tendência é que os jovens tenham mais foco nos estudos. Feinberg chegou a duvidar que sua proposta fosse ter tanta aprovação, mas mudou de ideia um dia quando o seu telefone tocou. “Era um aluno pedindo mais dever de casa”, lembra ele.

E o foco nos estudos é levado tão a sério que se reflete, inclusive, na forma como os alunos se vestem: calça, camisa, cinto e gravata – sem a estampa irreverente de Feinberg, claro. “Eles usam uniformes porque não queremos que eles se distraiam”, diz o educador, que ressalta também que, estando uniformizados, cresce entre os alunos a sensação de pertencimento e acolhimento em um grupo preocupado em fazê-lo estudar e, com isso, ter uma vida melhor que seus pais. Além disso, a roupa os fazem ser reconhecidos de longe nas ruas das comunidades pobres onde moram. “Mas um aluno da Kipp é facilmente reconhecido não apenas por isso, mas também porque ele é gentil, cumprimenta as pessoas, olha nos olhos dela, se preocupa com quem está a sua volta”, afirma.

A valorização dos professores é outro ponto enfatizado pelo educador. Por serem escolas charters, elas têm autonomia para escolher seu corpo docente e remunerar melhor os que se destacam. Eles passam por capacitações em que aprendem a serem líderes na sala de aula. “Eles aprendem que não podem apenas ensinar o conteúdo tradicional, mas também devem estimular os alunos a agirem com garra, resiliência, autocontrole, otimismo, curiosidade. E alegria”, diz o educador, combinando seu sorriso com os da gravata.

As escolas Kipp conseguiram aprovar alunos de baixa renda em universidades apostando, entre outros pontos, em disciplina. A rigidez de horários e procedimentos, no entanto, não está entre as tendências apontadas pelos especialistas para a educação do século 21. E você, o que acha? A disciplina é um caminho válido para se garantir resultados em comunidades vulneráveis?